quarta-feira, 13 de julho de 2016
Depois da minha última coluna “Não gosto de preconceito”, voltei a
sofrer preconceito. Dos leitores, como sempre (que considero inveja) e dos meus
“chefes” (que publicam essa coluna no jornal de araque). Como não sou boba, e
essa graninha me ajuda na compra de chapéus em Miami, optei pela “retratação”.
É isso mesmo, “retratar”.
Eu me considero na classe “B”, que chamamos de “a um passo do paraíso”.
Mas de agora em diante falarei como se fosse de classe “C”. Falarei sobre morar
em 38 m², sobre levar marmita, perguntar o preço antes de comprar ou pegar
ônibus todos os dias, mesmo com ar-condicionado e no horário. Mas, como? Nunca
passei por tais constrangimentos! Seria como um integrante do partido comunista
acumular bens, andar de carro importado de países capitalistas, e por ai vai.
Tive que ter aulas com a minha empregada, a Claudiármen (Pai Claudio +
Mãe Carmen, “pasmem”...) e o jardineiro Josefir. Eles são pessoas humildes, não
dominam o próprio idioma, mas levam um sorriso no semblante apesar de serem
miseráveis e deprimentes.
A empregada têm três filhos, e ainda é separada. Muitos ditos afirmam
que isto é digno de pena. É uma pena, digo então. Mas ai dela que não limpe as
janelas!
O jardineiro não sabe muito sobre bons costumes, pois canta enquanto
trabalha (ou trabalha enquanto canta) e seu repertório vai de sertanejo
universitário a forró pós-graduado. Não posso reclamar, pois seu trabalho é bem
feito (não levem isso como um elogio, pois é mérito do síndico, que é
desembargador classe “B+”).
Posso ainda falar dos atendentes do mercado, que dizem trabalhar demais
e ganham pouco. Como se eles tivessem escolha né? Trabalhem, por isso estou
comprando ai! Ou então é rua! Sem choradeira! Mas são honestos e tudo mais. Há
alguns pedintes na saída do mercado, mas convenhamos: classe “E” já é forçar demais!
Acho que está bom assim. Ufa! Falar da classe “C” dá trabalho! Mas
aprendi uma grande lição com essa árdua missão: é melhor escrever do que ser.
Trabalhar lhe tira o tempo de pensar. Isso é bom para se esquecer da letra “C”.
Mas enquanto olho a Claudiármen limpar a minha mesa onde escrevo (e me
atrapalhar como sempre), sempre me lembrarei da letra “B”. Se a história da
sociedade sem baseia na luta de classes, como disse Marx, ao menos eu luto com
classe, meninas.
- Cuidado com meus Château
Mouton-Rothschild sua mentecapta! – alertei a Claudiármen. Com
educação classe “B”, é claro.
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