segunda-feira, 18 de julho de 2016

COBRINDO A QUEDA DE UM MURO – G.L.



Vamos falar da minha primeira viagem internacional. Tudo bem. Não foi tão longe. Fui comprar roupas em Rivera, no Uruguai. Vamos falar da minha segunda viagem internacional. Foi em 1989. Meu objetivo era cobrir os protestos pela queda do muro de Berlim. O maior protesto foi no dia 4 de novembro e me mandaram apenas no dia 8 (o jornal que eu trabalhava na época não era grande coisa). Além disso, exatamente neste mês, o jornalista internacional Bernardo Checkin fora encontrado na Tanzânia, com pneumonia. Ele havia sido visto em imagens iranianas, no funeral do Ayatolá Khomeini, em junho, sendo que ele estava três dias antes na China, cobrindo os protestos de estudantes, sendo este último seu trabalho original. Doente e longe da Europa, Checkin mal podia levantar uma pálpebra (seu colega de quarto no hospital via TV o tempo inteiro). Então, lá fui eu novamente. Sorte que tinha um passaporte e um guia de alemão. Não sabia se entenderiam meu inglês, pois nem mesmo os ingleses entenderiam.
Eu estava atrás do “Berliner Mauer”. Tudo o que queriam os alemães, tanto comunista “democráticos” quanto capitalistas “federalistas” era a unificação. E eu, queria apenas um hambúrguer alemão (de graça, pois estava com o dinheiro contado). Depois de um anúncio na TV, a qual eu tive que assistir na rua, pois o hotel ficava no lado Lenin da força, os alemães foram “liberar as passagens” na marra. Alguns carregavam marretas, não biônicas, o que significava que o muro viria abaixo. E veio. Na minha perna.
Antes disso, entrevistei uma alemã, pela linguagem universal de sinais (que na verdade nem quem sabe um pouco de LIBRAS me entenderia), e ela me disse que estava feliz por poder ir e vir na própria cidade, no próprio país. Logo após, ela despareceu na multidão, que cantava o hino da Alemanha, ou pelo menos parecia. Em pouco tempo, com o muro tomado pelo povo e sem os guardas que o mantinham, o paredão vinha abaixo. Apesar das imagens da TV não mostrarem, o primeiro pedaço do muro caiu na minha frente. Que emoção! Ao menos até chegar tão próximo de mim que atingira minha perna. Naquele momento, comecei a perceber que um muro não era tão mal assim. Veja só o muro das lamentações? Mas já era tarde. Eu acabei não vendo todo o espetáculo. Mas senti na pele o fardo que aquele muro representava. Literalmente.

Os alemães, sem muita preocupação, me deixaram em um hospital da Alemanha Ocidental. Era melhor que meu hotel. Eu estava bem apesar do susto. Mas assim como Checkin, mal podia abrir meus olhos: naquela Alemanha os hospitais tinham TV nos quartos.




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