C.L. - CLARICE LUFTWAFFE

Sua carreira duvidosa começou como escritora, ao viajar para o Suriname e não ter condições de voltar (gastou o dinheiro da passagem de volta com sapatos). Como havia se divorciado pela quinta vez, resolveu aprender um pouco da cultura local, voltando dez anos depois. Tornou-se escritora por acaso, quando conseguiu seu primeiro emprego de entregadora de revistas de celebridades fúteis. Ao ler esse material não reciclável, ela começou a entender o ser humano comum introspectivamente, conhecendo a fundo os anseios dos famosos e o porquê de serem tão mesquinhos. Não é atoa que alguns a considerem arrogante, mas, como qualquer trabalhador de uma usina nuclear, o tempo exposto pode prejudicar e muito a quem se aventura. Não obstante, exige ao ser contratada que reconheçam a insalubridade de seu campo, de modo que nunca é vista na rua onde frequentem seres estranhos (ou menos afortunados), para que seu disfarce social seja mantido. No fundo, lá no fundo, ela quer viver em centros comerciais comprando sapatos. Como ela mesma diz, “quem está na chuva merece se molhar, pois é pobre”. E a chuva dela, no caso, é de um bom vinho chileno.

Escreve as quartas-feiras, em frente a sua piscina termal. Ou melhor, Claudiármen, sua empregada doméstica, digita o texto, sem antes passar bronzeador em Clarice.