segunda-feira, 11 de julho de 2016
Altemiro está prestes a beijar Jucelina. Quando o infeliz do diretor
grita: Corta! A atriz quase atira seu tamanco no velho, que está bravo com
sabe-se lá o que. Altemiro não tem expressão, mais do que o normal. Todos os
produtores estão felizes com a novela. Tudo saiu como planejado. O episódio
iria ao ar na semana que vem, e a audiência estava crescendo tanto que mal
podiam esperar pelos próximos capítulos (fãs incondicionais invadiram o estúdio
no dia anterior e fizeram Marie, a atriz que interpreta Jucelina, refém e para
libertá-la, queriam em troca ver os próximos episódios inéditos).
Mas aos poucos Marie ia se recuperando desses episódios (de gravação e
de sequestro). Ela saiu naquele fim de tarde com seu colega de profissão,
Alfred, que tinha nome e aparência de mordomo, mas na novela interpretava um
mendigo cleptomaníaco. Os dois iriam pegar o trem para Scalibur Ville. A
estação em Liberty City estava completamente vazia. Apenas zumbis e lobisomens
estavam esperando o trem. Mas algo estava mais estranho do que isso: O mapa
indicava uma outra cidade antes do destino deles, mas não era possível ler o
nome.
Mas isso não existia antes daquele momento.
Marie pediu para o Alfred perguntar à um dos lobisomens. Ele perguntou
mas eles não sabiam, logo foi até os zumbis, mas também nada. Irritado, Alfred
disse que um dos lobisomens havia chamado um zumbi de Roberto Marinho. Todos os
zumbis se ofenderam brutalmente, e partiram para a ignorância. Houve muita confusão
até a polícia chegar. Todos foram levados para a delegacia e só saíram de lá
com pagamento de propina. Marie e Alfred já estavam no trem nessas alturas...
Marie estava aflita. Nunca tinha visto aquela cidade entre as duas que
conhecia. Seria um erro gráfico? Ou apenas um engano na leitura?
- Estou com medo, Alfred! - confessou a mocinha.
- Não fique, querida. Logo passaremos por isso e estaremos em casa para
assistir a próxima temporada de Lost.
- Assim espero...
Após uma seção escura no trem, houve um clarão na mata iluminado pela
lua, e mais adiante por alguns refletores. Ali estava escrito o nome da cidade:
Rocktown.
Algumas casinhas foram aparecendo e conforme a noite avançava, prédios
brotavam da terra e tocavam o céu. Alfred não demonstrava nem um pouco de susto
ou apreensão. Ou já conhecia tais mistérios ou quem sabe era um E.T. muito
familiarizado. Já Marie estava com tanto medo que mal sabia o que estava
fazendo naquele trem. Sua casa era tão modesta que não parecia estar na próxima
estação, pois era difícil imaginar isso frente a quantidade de prédios imensos
ali presentes. Está certo que havia uma vaca pastando no asfalto, mas fora
isso, tudo era urbano demais.
O trem estacionou na estação. Marie esperou. Mas depois de muito tempo
parado, percebeu que a locomotiva não iria arredar pé dali. Então tomou a
liberdade de dar uma voadora na porta e quebrar tudo para sair dali
imediatamente. Alfred não se moveu. A moça passou pela parte de vidro. Um
instante depois, a porta abriu, com os dizeres na caixa de som:
- Bem vindo à estação Rocktown, desembarque permitido.
Aí sim, Alfred saiu.
As portas se fecharam rapidamente e o trem saiu a milhão. Bah, tinha
que ver... Só que na verdade, não era bem a estação desejada por Marie, tão
pouco por Alfred. Sim, o pesadelo começa a tomar forma...
Ela parecia saber que isso iria acontecer, então estava agora mais
curiosa por Rocktown, a cidade noturna.
Saindo da estação ela se depara com ninguém. Ou seja, nem se depara.
Toma a liberdade de sair e procurar alguém. Mas é difícil, pois alguns postes
estão com uma iluminação péssima, e guaipecas não saem do pé de Marie. Ela só
percebeu que tinha pisado na bosta quando tentou espantar os cuscos... Alfred
riu de canto. Riu riu chiu.
Os dois entraram em um bar com show ao vivo. Mas não havia alguma alma
penada tão pouco desalmada. Contudo, para o susto de Alfred (Marie já estava
gostando da situação), um velho surge de trás do balcão. Ele se parece com
aquele velho da fase dos chineizinhos do Hitman. Bem... Os dois foram até o
velho porta-teia-de-aranha e fizeram a pergunta que não queria calar:
- Tem Coca?
- Não. Só Pepis...
- Me vê dois drinques de Pepis.
Eles se sentaram em uma mesa. O bar era bem elegante até... Lembra
aqueles restaurantes que chegam a acumular pessoas fora esperando sua vez. Mas
nada disso estava acontecendo realmente. E havia um show, pelo menos era o que
dizia o cartaz lá fora.
- Não acha uma boa idéia perguntar aquele velho onde estamos?
- Sim, mas ele me parece alguém que eu conheço... Mê dê um instante.
Alfred começa a encarar o velho teioso. E o teioso não vira o rosto. Os
dois se olham por tanto tempo que parecem ter se apaixonado ao contrário. O
velho caminha para o lado e, como não olha para frente, tropeça e cai,
quebrando alguns copos. Ele levanta e se recompõe rapidamente, voltando a
encarar Alfred.
- Ei, moço, onde estão as Pepsis?
- Já estará quentinho e crocante na sua mesa, senhorita! - disse o
velho louco.
As luzes se apagam no bar. E refletores apontam para o palco. Sim,
haveria um show, de fato. Marie só queria saber se seria 'Os fantasmas da
ópera'.
Na porta, três homens com sobretudo verde marca-texto entram sem fazer
muito barulho. Mas não conseguem deixar de chamarem a atenção, devido a cor do
sobretudo. Alfred não tira o olho do velho teioso. E Marie não sabe mais para
onde olhar.
Lá no palco, uma cantora loira e velha, e um tanto mais para lá do que
pra cá, canta o hino nacional numa versão nada convencional.
Marie não sabe o que fazer, mesmo ainda achando tudo muito divertido.
Não era para menos, a menina tinha lá seus 32 anos e estava curtindo a
mocidade. E Alfred era um garotinho de 55 anos. Estava na flor da puberdade
avançada.
O velho finalmente trouxe o refrigerante (refri pros gaudérios). Isso
depois de ter trazido dois copos de vinagre e depois duas xícaras de
bicabornato de sódio. Mas em nenhum instante desviou o olhar de Alfred (imagine
quanto refri ele derramou fora do copo...).
Após os dois beberem, e o hino ser da forma mais horrível cantado, o
sono chegou para os dois. Alfred finalmente desviou o olhar do teioso caindo na
mesa dormindo. Marie percebeu a farsa do refri, e conseguiu ver os homens de
verde-claro chegarem até ela. Depois nada mais aconteceu.
Marie é acordada por Alfred. Ela olhando o colega nessas condições se
sentiu dormindo na casa do Batman. Mas na verdade estava apenas no meio da rua.
Sentiu a picada de levara no braço esquerdo, e logo o amiguinho Alfred mostrou
que também fora picado. Ela se levantou. Seu vestido estava sujo. E as calças
de Alfred estavam molhadas.
- Foram os cuscos, eu juro! - disse ele, se retratando.
Eles andaram um tempo, mas estavam exaustos por terem dormido direto no
chão. Logo mais à frente, eles encontram uma moça; ela também parece perdida.
Identifica-se como Lucy e mostra o cartão de não-monstro.
- Estou nessa cidade faz alguns dias. Nunca amanhece e não acho de
jeito nenhum a saída... Estou ficando nervosa...
- Vamos sair daqui, menina, não se preocupe. - amenizou Alfred.
Os três se uniram a foram em busca de ajuda. Mas a cidade estava
repleta de pequenas ilusões. A própria cidade era uma delas. À noite também.
Mas os cuscos não...
*Cusco, Guaipeca - Cachorro vira-lata, um daqueles que anda atrás de
cavalos. Como diz a milonga abaixo de mau tempo, "Me fala que a égua ta
prenha, que o porco ta gordo, que o baião ta solto, e a cuscada lá em casa
comeu".
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