quinta-feira, 30 de junho de 2016
Eram
três. Três horas. Da madrugada. Todos estavam dormindo. Mas ao contrário. Era
festa. Festa do sono. Mas ninguém estava dormindo. Pois era festa.
Dominic, um garoto sérvio, brincava com tampinhas de
garrafa em seu quarto. Seu mãe e sua pai, quer dizer, seus pais, foram a festa.
Na sala, uma babá. No quarto, com Dominic, ninguém. Resultado: não havia mais
ninguém em casa, a não ser o pequeno de 8 anos.
Ainda mais agora que a babá estava dormindo.
Ela não era sérvia. Era búlgara. E ruiva. Mas chata. E dorminhoca.
Dominic pegou suas tampinhas e as guardou dentro de
uma meia encardida. Estava as guardando para a escola. Altos planos. Mas seu
foco agora era a festa. Do sono. Ele sabia que seus pais imaginavam a
hibernação do garoto. Contudo Dominic não se chamaria Dominic se não quisesse
fugir dali. Se chamaria Bobonic. Ou Babaconic.
Sua babá estava em altos roncos na sala. Os ratos
estavam com medo. Quando o pai de Dominic não estava em casa, na madrugada, a
festa era deles. Mas a babá virou um caso a parte. Seria apenas naquela
eventualidade mesmo, pois o pequeno polegar passaria ileso por detrás do sofá.
Abriria a porta e sem mais delongas, estaria na festa.
Estaria, se não fosse Edgar Van Picnic, um velho
ex-combatente da 1º Guerra. Ele estava sempre de olho no criminoso mirim em
potencial.
- Onde vai, rapaizinho?
-
Vou procurar o Felix! -
Cão, mas como nome de gato.
O velho fez uma breve análise sobre o mentiroso:
estava de pijama listrado e com cara de quem nem dormira ainda. Como o velho
tinha suas manhas de combatente, e uma demência jamais vista na face dos
traumas de guerra, soltou as letras:
- Ah tá.
Dominic saiu com seu livre arbítrio mal
desenvolvido porta afora.
Lá pelas tantas, ele ouviu uma voz na rua úmida, a
caminho da festa. Era um ladrão. Mas daqueles que nunca diriam a frase
cabalística dos criminosos a um garoto de 10 anos no máximo:
-
Ei, garoto, onde está
indo?
-
Para a festa. Quer vir
junto?
Aquela tapeador fez que sim. Todavia ele
hesitou.
-
De onde um menino de 6
anos, com pijama listrado e cara de pirulito me convida pra ir numa festa
regada a Rum?
- Oras, aqui mesmo.
O ladrão não era bobo, realmente.
- Pois vamos, guri!
Lá estava o menino, agora acompanhado de um tutor
imundo indo para sua festa. Dominic não sabia do perigo que estava correndo. Entretanto,
quando falamos em Dominic da Sérvia, é melhor pensarmos que o perigo só corre
mesmo é do próprio Dominic. Era mais fácil a babá acordar do que Dominic sentir
medo.
Pois bem. A festa estava animada de mais, e a mão do
ladrão também. Mal sabia o vadio que em lugares onde pessoas se alteram poderia
ser mais fácil de trabalhar. Nessas alturas, Dominic estava fazendo algo
longínquo a do ladrão. O seu plano, bem dizendo. Dominic trouxera em seu bolso
uma dinamite. Ele tinha arranjado no armário do velho Edgar, quando o menino
quis usar o banheiro. O velho até o viu mexendo no armário, mas convém apenas
resumir que se tratava de problemas “papelísticos banherísticos”. E o velho?
Nem ai.
Bem, a dinamite de Dominic estava posicionada. Onde?
No grande e fabuloso bolo da festa. Ainda não tinha sido cortado. Foi quando,
neste momento, um palhaço bêbado (reparem que não há crianças na festa, exceto
o penetra mirim) se aproxima do bolo e pergunta:
-
Garoto, o que está
fazendo?
-
Quero um pedaço do bolo!
-
Apesar de eu estar meio tomado pelo rum, creio ter visto você colocando
um pirulito no bolo - disse o palhaço, que olhou para a cara de pirulito de
Dominic e misturou um pouco seu ponto.
-
É que eu não quero que
nenhuma criança veja!
- Menino esperto, hein?
O palhaço sai feliz por ter ajudado o garoto. Mas
depois de 10 passadas a frente, ele percebe seu erro. As pessoas a sua frente o
admiram. Também, estão bêbadas... Apesar disso, algo diz que o palhaço viu a
dinamite, e o garoto podia querer fazer algum tipo de atentado. Mirim, é claro.
Ele se virou, surpreso, e disse:
- Eu fui lá pegar uns salgadinhos e voltei sem
nada... hic!
Após o 'hic', a dinamite explode. Apenas depois de
algo explodir um bolo é que sabemos que a doceira caprichou no merengue e
descontou no recheio. No entanto isso era o de menos, pois a dinamite destruíra
o bolo, a mesa, o rum e a noite.
Em se tratando de preocupação, cerca de metade dos
convidados aplaudiram após o ocorrido, pensando que a explosão era parte da
festa (destruir tudo era parte da festa?). Uma percentagem caiu pois a outra
percentagem, a de álcool, estava demasiada. Outros poucos ficaram assustados e
rumaram suas casas, apesar de estarem completamente desnorteados. Alguns desses
pensaram estar em Paris.
Antes que todos os raciocínios ilógicos provenientes
de festeiros da festa do sono sentissem que era hora de dar no pé, Dominici já
praticamente estava em casa. Teria apenas que burlar, mais uma vez, o velho
Edgar.
-
Menino, que horas são
essas na rua e de onde tirou esse sorriso de pirulito?
-
São 3h, Sr. Edgar e hoje teve
festa lá no parque.
O velho pouco acreditou, sabia da verdade.
- Que bom, guri. Tenha uma boa noite.
Dominic entrou e deixou
cair um vaso com barro, em cima do gato Felix. Ele gritou e correu. O barulho
foi tão grande que fez a babá se mexer no sofá. Dominic fechou a porta e
retirou-se na cama.
Na manhã seguinte, os pais chegam 8h em casa. Estavam
acabados. Na verdade tinham ido dormir 4h, só que na rua. Na verdade, não muito
longe. O próprio Felix tinha ido os acordar.
A babá ainda dormia, mas acordou quando sentiu cheiro
de pão, que o pai havia trazido. Tão
logo despertou, começou seu relatório:
-
Sr. Petkovic, o garoto foi dormir as 9h da noite, e eu as 11h. Nada
aconteceu durante a noite, visitei o menino durante toda a noite. Essa sujeira
foi culpa do gato. Se quiserem perguntar algo, façam ao Sr. Edgar, vizinho de
prédio.
-
Não será necessário,
minha filha, tome aqui seu pagamento - sentenciou a mãe.
O pai sentou na mesa enquanto a mãe fazia o
café. No jornal, duas manchetes estampavam morosamente a capa:
"Festa
do Sono é arruinada por dinamite no bolo. A investigação fará sua apreciação
nesta tarde. Mas, provavelmente, seria ato de algum borracho da festa".
Talvez a loucura do
acontecido fosse o de menos. Ambos sabiam que combinar aquele horário com beber
demais daria nisso. Os detalhes da notícia ainda apontariam um palhaço de 46
anos como principal suspeito.
Na outra notícia, dizia: "Ladrão é preso após
roubar todas as pessoas na festa, beber muito Rum e dormir com o saco dos
pertences a 10 metros do local".
Depois desse ocorrido, muitos servos tem
admitido que a frase 'a noite é uma criança' surgiu ali. Porém, isso eram
apenas boatos.
Uma coisa estaremos sempre certos: Nunca colocaremos o nome de nossos filhos de
Dominic...
¨¨¨¨
-
Querida, onde está meu
isqueiro?
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