sexta-feira, 17 de junho de 2016
Isso se passou lá na grota, na zona rural da cidade satélite de Lambari
do Oeste, que era considerada "desenvolvida". Para se ter uma ideia,
"Eu reconheço que sou um grosso", do Gildo de Freitas, era a mais
tocada de todas as rádios de lá - que no caso só havia uma, a rádio Grosseria -
incessantemente, tanto que era o hino oficial daquele valão. A tia em questão
(Gorgonzolina, mas apelidada de Lina) estava bastante confusa. Sua TV com
Bombril na antena funcionava que era uma maravilha - ela usava como rádio.
Aristides (tio e esposo da tia, a quem chamavam de Tritongo) não
aguentava ficar em casa. Estava um calorão. Fazia 40°C na sombra, e no sol,
80ºC. Ele pegava seu jipe adaptado - ele usava um chassi de fusca e rodas de
trator - e saía campos a fora pra bater um ventinho no sovaco. Numa dessas
saídas, conseguiu apanhar cerca de 200 bergamotas de uma chácara de japonês,
"emprestado". Ao retornar, viu sua esposa Lina na beira da estrada,
carregando as sacolas do mercado e um botijão de 18 litros, em meio a poeira
danada:
- Pra pegar bergamota tu sais de carro, não é seu imprestável?! - disse
ela, raivosa.
Ao que o tio, mais omisso que o Governo, sentou no carona e deixou a
tia guiar. Lá pelas tantas, eles passam por um quebra-molas - que na cidade era
feito com sobras da lavagem do porco -, mas nada de mais. No terceiro, sem
reparar, a tia passou batido. Não deu aquela "freadinha" antes. Os
dois bateram a cuca no teto do fusquinha. "Humpf", pensou o tio. A
tia freou:
- Tá resmungando é?!
Ela saiu do carro e puxou o tio pra fora. Deu-lhe uma camaçada de
chineladas nas pernas. Ele levava na esportiva; ou eram os chinelos ou a
casinha do cachorro...
Logo após a "lição" do Tritongo, eis que os dois olham para
trás. Lá estava o terceiro quebra-molas, que na verdade não era bem isso.
Epitáfio, o ornitorrinco da tia, estava lá, desfalecido, mais parado que fila
do banco. A tia desmaiou. Mas caiu em cima do tio, que desmaiou também - porém,
devido ao impacto. Ao acordarem, não viram mais nada.
Desesperada, a tia Lina pegou o fusca e foi pra casa. Mas lá já estava
o ornitorrinco, apenas com ferimentos leves. Ela estava feliz novamente. E o tio,
à 40 Km dali.
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