terça-feira, 19 de julho de 2016

PEDIDO DE CASAMENTO – C.L.



Narciso estava pronto. Tinha decidido que naquele dia iria pedir Bromélia em casamento. E havia se preparado para tanto. Seria uma noite escolhida em cheio, céu estrelado, luzes da cidade, primavera, maio. Ele havia comprado um terno de tweed, talvez o mais caro, que iria usar naquela noite.. Tinha pensado em tudo. Encomendou com um mês de antecedência, na alfaiataria Boulevard Bolchevique Gorbachev-Reagan. Suas medidas eram 30 de tórax, 45 cm de busto, 75 de arbusto. Mas não precisava se preocupar, pois o alfaiate era norueguês, e isso representava segurança e confiabilidade. Um dia antes chegou a sua casa um perfume vindo de Paris, chamado Mont Serrat, nº15, que, no mundo, só havia 10. Reservou uma mesa no François Peperoni di Barcelona, o mais elegante restaurante da cidade. Três presidentes haviam jantado naquele restaurante. O dono do restaurante, inclusive, fora amigo íntimo de Frank Sinatra e Amadeus Mozart (ignorem a questão cronológica). Sua mesa era a mais próxima da sacada que dava vista à torre Eiffel. A mesa e a cadeira haviam sido preparadas para o encontro, sendo o material produzido com madeira de lei vindo da Amazônia, os estofados eram de linho e a textura lembravam os brancos marfins. Havia na mesa um lustre grande e dourado, além de todo o jogo de jantar em porcelana artesanal. Havia flores em diversos vasos próximos a mesa, o que iria ajudar na aromatização do local. O garçom já havia separado um vinho Chardonay Francês, achado por arqueólogos e datados da época de Tutankamon, mas que iria chegar à maturação exatamente no momento que fosse servido. O vinho acompanharia uma massa preparada por Mario Luigi, o maior chef de cozinha italiano e também encanador nas horas vagas. Além disso, dois violinistas da Orquestra Sinfônica de Londres tocariam Io Che Amo Cholo Te, juntamente com uma mezzo soprano argentina. Após o jantar, seria servido um profiteroles, onde estariam escondidas as alianças. De ouro, com diamantes de 64 quilates, poderiam encantar qualquer mulher apenas com seu brilho. Ele iria chegar às 20 horas, de limusine Mercedez, que seu chofer Rosamundo Pilcha estaria pilotando.

No decorrer da noite, Narciso ouviu três frases que jamais esquecera. Primeiramente, “não”. Posteriormente, “pois você é muito criterioso”. E por fim, “mas nada impede que sejamos amigos”. Bromélia não havia desprezado o esforço de Narciso. Mas seriam assim todos os dias do casamento? Investiria isso tudo nela pela eternidade? Pode-se comprar o amor? Não podemos culpá-la, então. Narciso não pensara assim. Mas com classe soube resolver a situação. Enviou os boletos de tudo para o endereço de Bromélia e fugiu para o Camboja. Hoje é camponês. Encontrou Jasmin. Pediu-a em casamento. Sem pompa. Levou outro “não”. “Narciso não é homem para casar”, dizia sua avó. Narciso não ouve. Ele age. E paga.


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